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quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Augusto dos Anjos e seu esplêndido mau gosto


Augusto dos Anjos é um dos poetas mais interessantes de toda a literatura em língua portuguesa, podendo ser incluído, sem qualquer exagero, no rol dos grandes nomes, junto de Luís de Camões, Bocage, Fernando Pessoa, Raimundo Correia e Drummond de Andrade. Paraibano natural de Sapé, Augusto tem uma obra peculiar que, construída no breve curso de três décadas de vida, ecoa até os dias de hoje como uma das mais expressivas de nossa língua.

Alguns dos mais conhecidos trabalhos de Augusto dos Anjos estão sob a forma de soneto. Os mais fanáticos admiradores de sua obra, aliás, chegam a afirmar que o seu soneto Vandalismo, em que o eu-lírico enfrenta (e destrói) a iconoclastia dos próprios sonhos, é o mais primorosamente escrito da literatura brasileira. Ilações à parte, é certo que o poema mais difundido de Augusto, sabido de cor pelos mais apaixonados por poesia e escrito pelo poeta aos 17 anos de idade, é o soneto Versos Íntimos:

Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!


Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.


Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.


Se a alguém inda pena causa a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!


Seus versos constituem formas representativas (muitas vezes impecáveis) da condição humana, visitando os mais diversos temas, passeando pelas inúmeras formas que a poesia permite (isto é, ao menos diante das possibilidades de seu tempo: sonetos e longos poemas de quadras, sempre rimados e dotados de métrica) e, principalmente, se valendo de uma carga vocabular destoante das convenções mais formalistas, retirado quase sempre do meio científico (Augusto era adepto a uma corrente chamada "monismo", que rendeu um poema, Sonho de um monista), que chegava aos leitores sob a forma de termos como diatomácea, hidrópicos, criptógama, vísceras etc.

Esta última característica citada rendeu a Augusto certo desprezo da classe artística, que por muito tempo reduziu-o a epítetos, como o de "poeta cientificista". Aliás, nunca sequer ficou muito claro a qual movimento Augusto dos Anjos se filiava, uma vez que sua obra era, por ainda manter certo rigor na forma, ora considerada parnasiana, ora simbolista, por seu expressionismo muitas vezes exacerbado e pela descrição figurativa de alguns elementos (quase sempre macabros). Foi então de grande valia a contribuição de Ferreira Gullar na elucidação dessa questão. Diz ele: “Talvez nenhum outro autor do período merecesse tanto a denominação de pré-modernista como Augusto dos Anjos. Pré-modernista ele o é na mistura de estilos, na linguagem corrosiva, no coloquialismo e na incorporação à literatura de todas as sujeiras da vida.” Assim dito, a classificação como pré-modernista não poderia ser mais bem colocada: Augusto era um poeta original, tanto por sua visão de mundo como pela forma como compunha seus versos, mesmo que muitas vezes, e aqui faz-se justiça aos seus mais ferrenhos críticos, ele o faça de maneira um tanto quanto mórbida.

A questão é que Augusto tinha plena ciência de que estava fazendo, isto é, ele objetivava, já na concepção de seus versos, chocar seus leitores com sua temática e escolha vocabular. Em um soneto intitulado O Poeta do Hediondo ele diz: "Ah! Certamente eu sou a mais hedionda/ Generalização do Desconforto.../ Eu sou aquele que ficou sozinho/ Cantando sobre os ossos do caminho/ A poesia de tudo quanto é morto!".

Tal como fora supracitado, a classe artística da época, os cânones da poesia de um Brasil longínquo, nutriam certo ranço por Augusto dos Anjos, e consideravam débeis as suas tentativas de desenvolver uma obra original e constituída de elementos dos quais ninguém antes ousara se valer – como ocorre, aliás, com qualquer movimento que buscar romper com o status quo, vide o modernismo, no Brasil, ou a dita Questão Coimbrã, em Portugal.

Há uma série de adjetivos possíveis para caracterizar a obra de Augusto dos Anjos, e se valer de um par deles para aqui fazer uma síntese simplista não é tarefa fácil e, ademais, não parece ser justo. Mais fácil dizer o que sua obra não é, e podemos seguramente dizer que ela não é nem romântica, nem otimista. A temática do amor, tão presente na obra dos poetas mais tradicionais, faz-se aqui ausente, e Augusto se justifica em seu soneto Idealismo. Diz ele: “Falas de amor, e eu ouço tudo e calo!/ O amor da Humanidade é uma mentira./ É. É por isto que na minha lira/ De amores fúteis poucas vezes falo./ O amor! Quando virei por fim a amá-lo?!”. 

Ainda sobre essa temática, mas agora trazendo a questão e focalizando-a para si enquanto eu–lírico, Augusto diz, em seu poema Queixas Noturnas, que “Sobre histórias de amor o interrogar-me/ É vão, é inútil, é improfícuo, em suma;/ Não sou capaz de amar mulher alguma/ Nem há talvez mulher capaz de amar-me.” Depreende-se, portanto, que não apetecia ao poeta aqui tratado falar das veleidades do coração.

Por outro lado, a ausência de otimismo não é exatamente pessimismo. Explica-se: Augusto não vê a vida como um fim em si mesmo, isto é, o viver não constitui um fator que se justifica nas próprias peripécias por que passa aquele que vive (o amor, as tristezas, a felicidade familiar, os prazeres da carne etc.), atendendo, então, a vida a um propósito muito maior: a morte. Dentre as tantas, esta é, certamente, a temática mais explorada por Augusto que, aliás, confessa isso em seu soneto Último credo. Diz ele: “Como ama o homem adúltero o adultério/ E o ébrio a garrafa tóxica de rum,/ Amo o coveiro – este ladrão comum/ Que arrasta a gente para o cemitério!” Ademais, a morte é um prato cheio para que se explore o vocabulário "de mau gosto" tão caro ao poeta, usando-o para tratar, além de algumas reflexões existenciais, de ocorrências pessoais com a morte que o circundavam - o que lhe rendeu, aliás, o epíteto de "poeta da morte" (não gratuitamente, como se há de ver).

Um desses casos se decorre nos Sonetos ao pai, em que Augusto dos Anjos constrói uma sequência cronológica de três sonetos que registram acontecimentos relacionados ao perecimento de seu genitor, o sr. Alexandre Rodrigues dos Anjos. No primeiro deles, A meu Pai doente, o poeta lamenta as dores que afligem seu pai no leito de morte deste, e apresenta um resquício de ressentimento contra aqueles que mal fizeram ao seu pai, questionando "Magoaram-te, meu Pai?! Que mão sombria,/ Indiferente aos mil tormentos teus/ De assim magoar-te sem pesar havia?!", e em seguida fugazmente questiona a índole de Deus, mas logo em seguida conclui que Ele "não havia de magoar-te assim!". No segundo soneto, A meu Pai morto, registram-se os últimos suspiros pai, além de uma saída do poeta para ver a natureza enquanto o pai "dormia", e neste breve passeio ele registra que "(...) pareceu-me, entre as estrelas flóreas,/ Como Elias, num carro azul de glórias,/ Ver a alma de meu Pai subindo ao Céu!" O terceiro, A meu Pai depois de morto, por sua vez, é o mais representativo de todos. Diz ele:

Podre meu Pai! A Morte o olhar lhe vidra.
Em seus lábios que os meus lábios osculam
Micro-organismos fúnebres pululam
Numa fermentação gorda de cidra.

Duras leis as que os homens e a hórrida hidra
A uma só lei biológica vinculam,
E a marcha das moléculas regulam,
Com a invariabilidade da clepsidra!...

Podre meu Pai! E a mão que enchi de beijos
Roída toda de bichos, como os queijos
Sobre a mesa de orgíacos festins!...

Amo meu Pai na atômica desordem
Entre as bocas necrófagas que o mordem
E a terra infecta que lhe cobre os rins!

A morte aparece de maneira ainda mais sombria em um outro soneto de Augusto, escrito em 2 de fevereiro de 1911, o qual ele dedica "Ao meu primeiro filho nascido morto com 7 meses incompletos". É um dos poemas mais emocionalmente carregados, que contempla consigo certa indignação (expressa por meio de questionamentos), inconformismo e desolação - nada fora do que se esperaria da situação que o circundava -, porém, percebe-se que o poeta busca algo de positivo na situação do filho natimorto, tanto que o texto é concluído com certa resignação, em que Augusto parafraseia a célebre máxima de Sófocles, segundo a qual "Não nascer talvez seja a maior dádiva de todas". Segue:

Agregado infeliz de sangue e cal,
Fruto rubro de carne agonizante,
Filho da grande força fecundante
De minha brônzea trama neuronial,

Que poder embriológico fatal
Destruiu, com a sinergia de um gigante,
Em tua morfogênese de infante
A minha morfogênese ancestral?!

Porção de minha plásmica substância,
Em que lugar irás passar a infância,
Tragicamente anônimo, a feder?...

Ah! Possas tu dormir feto esquecido,
Panteisticamente dissolvido
Na noumenalidade do NÃO SER!

O termo de que Augusto se vale para embasar o seu "não ser" (com letras garrafais) nada mais é que um neologismo, isto é, uma palavra que o poeta criou a partir da fusão de universalidade com a palavra grega nous, que expressa uma capacidade humana de captar determinadas verdades por meio da intuição. O uso de tal neologismo pode ser meramente estilístico, mas também pode representar a ausência de uma palavra dicionarizada que expressasse o sentido exato que ele buscava.

Foi na madrugada do dia 12 de novembro de 1914 que Augusto dos Anjos enfim conheceu a face daquela sobre quem tanto falara. Ester Fialho, com quem era casado desde 1910, foi a responsável por informar a mãe do poeta, a sra. Córdula Carvalho Rodrigues dos Anjos, a quem chama de Dona Mocinha, sobre a morte dele através de uma carta. Nela, Ester faz um relato digno do célebre poema Pneumotórax de Manuel Bandeira. Diz a viúva: "Quando vivíamos com descanso, gozando da companhia alegre dos nossos estremecidos filhinhos, eis que uma congestão pulmonar, que degenerou em pneumonia rouba-me bruscamente o Augusto, deixando-me na mais desoladora situação. Todos os recursos da medicina acompanhados dos meus carinhos e cuidados, foram baldados diante da moléstia atroz, que me privou, para sempre, de quem fazia a minha felicidade e a minha alegria."

O que Augusto encontrou assim que se foi, desconhecemos, e poucos de nós se propõem a tentar responder a isto, porém é fato que o poeta foi se preparando (no conteúdo de sua obra, aliás) para este momento. Em seu soneto Vozes da morte, ele. se dirigindo ao seu tamarindeiro (sob o qual, aliás, escrevia boa parte de seus poemas), a descreve  com resignação e com certa visão fatalista da realidade. Diz: "Agora, sim! Vamos morrer, reunidos,/ Tamarindo de minha desventura,/ Tu, com o envelhecimento da nervura,/ Eu, com o envelhecimento dos tecidos!/ Ah! Esta noite é a noite dos Vencidos!/ E a podridão, meu velho! E essa futura/ Ultrafatalidade de ossatura,/ A que nos acharemos reduzidos!"

Uma singular ocorrência envolvendo o famoso parnasiano Olavo Bilac se desenrolou com a morte de Augusto dos Anjos, e esta só reforça o tamanho da recusa dos tradicionalistas em aceitar Augusto e sua obra em seu meio artístico. A descrição do episódio é de um dos biógrafos do poeta, Francisco de Assis Barbosa: “Dias depois de sua morte [de Augusto], ocorrida em Leopoldina, Órris Soares e Heitor Lima caminhavam pela Avenida Central e pararam na porta da Casa Lopes Fernandes para cumprimentar Olavo Bilac. O príncipe dos poetas notou a tristeza dos dois amigos, que acabaram de receber a notícia. – E quem é esse Augusto dos Anjos – perguntou. Diante do espanto de seus interlocutores, Bilac insistiu: Grande poeta? Não o conheço. Nunca ouvi falar nesse nome. Sabem alguma coisa dele? Heitor Lima recitou o soneto Versos a um coveiro. Bilac ouviu pacientemente, sem interrompê-lo. E, depois que o amigo terminou o último verso, sentenciou com um sorriso de superioridade: - Era esse o poeta? Ah!, então, fez bem em morrer. Não se perdeu grande coisa.” 

Uma coisa é certa: Augusto lançou apenas um livro na vida, Eu (mais tarde ampliado para Eu e outras poesias pelo amigo Órris Soares, partícipe da situação descrita), em 1912, isto é, dois anos antes de morrer, e com esta obra fez-lhe justiça a História. Hoje, Eu é o livro de poesia com mais reedições existentes no Brasil, ultrapassando soma de todas as obras de Olavo Bilac juntas.

Longe de guardar qualquer agrura em relação aos críticos ferrenhos de Augusto dos Anjos, os quais, afinal, lutaram por espaço na história para si e suas obras, o que se remata é que a literatura reserva sua memória aos poetas que, a despeito da forma e de rimas apropriadas, constroem sua poesia valendo-se de sentimentos genuínos como matéria-prima. Sentimentos estes arejados sob a forma de palavras que ecoam pelas almas de leitores, geração após geração. Augusto dos Anjos indubitavelmente é um desses casos. Em seu soneto Vencedor, ele narra, de forma arrebatadora, a "saga" de seu coração que, por sua sensibilidade artística, travava batalhas contra o mundo. Diz ele: "Meu coração triunfava nas arenas./ Veio depois de um domador de hienas/ E outro mais, e, por fim, veio um atleta,/ Vieram todos, por fim; ao todo, uns cem.../ E não pude domá-lo, enfim, ninguém,/ Que ninguém doma um coração de poeta!"

Referências

"Augusto dos Anjos - poeta singular", por Pedro Luso de Carvalho
"Augusto dos Anjos", por Paulo Vieira
A Literatura Brasileira, por Alfredo Bosi

sábado, 17 de janeiro de 2015

Sobre "Édipo Rei", de Sófocles


Introdução
 
Em um mar de livros e coleções clássicas que compõem a literatura mundial considerada essencial e indispensável a todo e qualquer indivíduo interessado, se encontra um pequeno livro chamado Édipo Rei. Pequeno apenas em tamanho e número de páginas, pois a grandeza da história é inegável em qualidade e influência. Escrito por volta de 430 a.C. por Sófocles, o livro é lembrado como um perfeito exemplo de uma tragédia grega, principalmente depois de ter suas qualidades reconhecidas por Aristóteles em sua obra Arte Poética.

O autor, acredita-se, chegou a escrever mais de 120 peças teatrais, porém, tiveram o privilégio de chegar aos dias de hoje apenas sete (perdas atribuídas ao próprio tempo, descuidos e, também, à Igreja inquisidora). Das sete remanescentes, três compõem a chamada Trilogia Tebana: são eles, em ordem cronológica de acontecimento, Édipo Rei, Édipo em Colono e Antígona. Aqui, em especial, trataremos apenas do primeiro volume.

O seu conteúdo, que envolve, entre parricídio e regicídio, o incesto entre mãe e filho, foi usado como referência por Sigmund Freud para designar uma síndrome desenvolvida nos primórdios do desenvolvimento psicossexual, no qual a criança se apaixona, quando mulher, pelo pai, e quando homem, pela mãe. Tal síndrome, que tem sua gênese entre os três e seis anos, foi chamada de Complexo de Édipo. 

Segundo Aristóteles em Arte Poética, os elementos da ação complexa, enumerados já no décimo primeiro capítulo, são peripécia, reconhecimento e acontecimento patético (ou "catástrofe"). Em Édipo Rei, todos estes elementos são facilmente identificáveis (veremos mais abaixo) e, além disso, muito bem escritos e desenvolvidos - o que justifica os elogios dispendiosos de Aristóteles à obra.

Enredo

Édipo Rei tem como ponto de partida uma peste que atinge a cidade-estado de Tebas. Clamando por ajuda, um grupo de cidadãos vai ao encontro rei Édipo, para que este busque alguma forma de cessar ou ao menos amenizar os efeitos do flagelo que os atinge. O rei, mostrando-se bastante solícito e prestativo, manda seu cunhado, Creonte, em busca de uma resolução para o problema através de uma consulta ao Oráculo de Delfos, o mais importante centro religioso da Grécia Antiga (hoje em ruínas). A resposta ofertada por Apolo, através de Creonte, é a de que Tebas apenas se verá livre da peste quando o assassino de Laio, o rei antes de Édipo, fosse devidamente punido.

Este foi o estopim para que o leitor começasse a instigar suas curiosidades a respeito de como ocorreu a sucessão do trono, uma vez que não valeram as práticas de praxe, já que supostamente Laio não deixou herdeiros. Não são fornecidas muitas informações a respeito do passado de Tebas, mas pelo carinho que a população tebana tem para com Édipo, depreende-se que este ajudou a cidade a se reerguer de uma crise e espantar de lá os males que a assolavam, os quais tem ampla ligação com a Esfinge. Isto, porém, não é tratado neste volume. A questão é que, após prestar tal amparo a Tebas e sentar em seu trono, Édipo toma para si a esposa do antigo rei e com ele tem alguns filhos. Segue-se, então, cerca de quinze anos até os tempos em que a peste faz-se presente.

A questão do passado de Édipo faz-se presente por partes, as quais tomamos conhecimento tanto através do próprio Édipo como de antigas testemunhas. Em síntese, Édipo é filho de Pólibo, rei de Corinto. Uma singular ocorrência, porém, instigada por um comum durante um evento, no qual a legitimidade do herdeiro de Corinto, Édipo, é questionada, a curiosidade deste é instigada. Buscando por respostas, parte ao Oráculo de Delfos, onde uma profecia lhe é revelada: sua sina é cometer parricídio, isto é, assassinar o próprio pai e, ainda, desposar a própria mãe. Estando crente de que esta era a condição à qual estaria subordinado, o inquieto Édipo tenta lutar contra o próprio destino e retardar o que supostamente lhe aconteceria. A solução encontrada foi a fuga de Corinto, onde estavam seus pais e supostas e potenciais vítimas do seu destino, para a poderosa Tebas.

Crendo-se já isento de responsabilidade da profecia por conta do tempo e distância, Édipo concentra seus esforços em resolver a suficientemente embaraçosa situação em que se encontra sua Tebas. Porém, uma verdadeira tormenta é provocada na mente de Édipo quando este chama um profeta cego, Tirésias, para ajudar a elucidar a questão referente à morte de Laio. Entretanto, de forma bastante estranha e temperamental, o profeta se recusa a responder quem é o assassino, pois este estaria mais próximo do que Édipo seria capaz de imaginar. Não sem demandar muita resistência, ele acaba por acusar o próprio rei Édipo de ser o regicida, isto é, o assassino do rei.

A primeira reação é bastante esperada e digna de um rei: Édipo crê que a acusação nada mais é do que uma parte de um plano que espera tirá-lo do trono. Acusa, por isso, Tirésias, o profeta, de ser mancomunado com Creonte, seu cunhado, o qual, buscando enfraquecer a imagem e índole do atual rei, seria o pretendente a sucedê-lo. Tais calúnias não foram bem recebidas, sob juras de lealdade incondicional de Creonte. A inquietação de tal acusação, feita por um profeta cujos reconhecimento e legitimidade, cultivados por anos de experiência, não poderiam ser questionados, ainda permanecia em Édipo.

Assim como a situação exigia, Édipo se força a recordar de coisas que poderiam ser importantes para ajuda-lo a elucidar a questão. Duas recordações vêm. A primeira, da profecia. Estaria ele destinado a matar o próprio pai? E como isso se aplicava ao atual caso? Para tanto, precisaria ser filho de Laio, o que lhe era impossível de conceber. A segunda memória foi a de um dia, durante o trajeto de Corinto a Tebas, quando, em uma encruzilhada, encontra um velho homem o qual, diante de seu comportamento desagradável, Édipo mata.

Diante de tais embaraços, Édipo recebe um mensageiro direto de Corinto que oferece a Édipo o trono da cidade-estado, já que o seu rei, Pólibo, está morto. Por um instante, Édipo enche-se de alegria, não exatamente pela morte do pai, mas pelo que aquilo significava: a não concretização da profecia. Édipo não seria, afinal, um parricida. Uma nova revelação, porém, vêm a ser feita: o povo de Corinto oferecia a Édipo o trono de sua cidade, apesar (veja bem!) de saber que em verdade não era filho legítimo de Pólibo. Nas palavras do mensageiro, "É que ele não era teu pai, como eu não sou!".

Nesse ponto, após requisitada, há a aparição de um servo, o qual seria a única pessoa viva que acompanhava o rei Laio na viagem em que este fora massacrado, com o objetivo de responder a algumas perguntas. Com este personagem, forma-se um grupo suficiente para que respostas de conteúdo antigo fossem dadas a perguntas imediatas. Revela-se que o tal servo recebeu um bebê direto das mãos da rainha Jocasta, o qual seria fruto da união dela com rei Laio, que deveria ser morto. Os motivos seriam "terríveis oráculos", os quais haviam apontado que Laio seria assassinado pelo próprio filho. Com a criança em mãos, o servo, porém, se impieda e a entrega para o mensageiro, para que este a criasse como se fosse seu próprio filho. Ele, porém, o entrega ao rei de Corinto, e se desenrola toda a história.

Tomando conhecimento da realidade, Jocasta corre para dentro do palácio e lá se enforca. Édipo toma ciência de que os oráculos que temia um dia se realizarem e agiu por toda a vida a fim de evita-los, não apenas estavam corretos como já se haviam realizado e se apresentavam a ele como a realidade que sustentava: sua posição de rei dependeu da ausência do anterior, de cuja morte ele próprio havia se encarregado; sua esposa e mãe de suas filhas revelou-se ser sua própria mãe. Não suportando tal vergonha, a de ter que encarar a realidade tal como é, Édipo, já se deparando com Jocasta suicidada, tira do vestido dela alguns colchetes de ouro (objetos equivalentes a alfinetes) e os enfia nos próprios olhos, cegando-se definitivamente. Por fim, vemos Creonte, seu cunhado, discutindo seu futuro e, atendendo ao pedido do próprio Édipo, cedendo-lhe o a possibilidade de se exilar.

Elementos da ação complexa

Aristóteles nasceu em 384 a.C., ou seja, 43 anos depois de Édipo Rei ser escrito (o que aconteceu por volta de 427 a.C.). O bom desempenho de Sófocles certamente era reconhecido, uma vez que, ainda como estreante, ganhou um concurso literário, ficando a frente de um dos maiores nomes da época, Ésquilo; além disso, Sófocles foi, por quase meio século, um dos mais notórios dramaturgos de Atenas. Sua obra, porém, à época de Aristóteles, não poderia ser considerada como clássica e muito menos absoluta - o que não impediu que o renomado aluno de Platão reconhecesse os méritos de Édipo Rei, chegando a caracteriza-la como a mais perfeita tragédia já escrita. 

Tal elogio, porém, não parte de um prejulgamento absolutamente pessoal e parcial que contava apenas com a questão de identificação dele, enquanto indivíduo, com a obra e seu conteúdo. Inclusive esta é a forma como a grande maioria das pessoas alcunha uma obra como "boa" e "ruim" - o que é um erro. Não é possível que se faça um julgamento de uma obra tendo como ponto de partida critérios subjetivos. Em análise, a objetividade há de prevalecer e, contidos em Arte Poética, estão inúmeros critérios objetivos através dos quais, fazendo notar sua presença, pode-se determinar se a obra detém a qualidade mínima para o gênero - no caso, a tragédia.

Aristóteles denomina tais elementos imprescindíveis como "elementos da ação complexa", os quais decorrem, fundamentalmente, na seguinte ordem: peripécia, reconhecimento e acontecimento patético ou "catástrofe". Em Édipo Rei encontramos todos esses elementos.

A peripécia nada mais é do que um acontecimento cuja ideia inicial passada (às vezes propositadamente) é errônea, isto porque sua intenção ou a interpretação que damos a ela não gera aquilo que é esperado. Decorre exatamente o contrário ao que era inicialmente indicado. Em Édipo Rei, isso fica bastante evidente quando Édipo, no auge de seu conflito interno, que envolvia seu presente e passado, recebe um mensageiro vindo de Corinto que alega ter boas notícias que serviriam para tirar o peso de sua consciência (a morte se seu suposto pai), mas que servem apenas para atiçar mais e mais a revelação da trágica verdade.

O reconhecimento é aquele que, na definição do próprio Aristóteles, "faz passar da ignorância ao conhecimento, mudando o ódio em amizade ou inversamente nas pessoas voltadas à infelicidade ou ao infortúnio". Também encontramos isso em Édipo Rei, em especial no momento em que são feitos todos os devidos esclarecimentos, tanto por parte do mensageiro como do servo. Diz Édipo no momento em que reconhece o real estado de sua condição: "Ai de mim! Tudo está claro! Ó luz, que te vejo pela derradeira vez! Todos sabem que tudo me era interdito: ser filho de quem sou, casar-me com quem me casei e matar aquele a quem eu não podederia matar!". Vimos acima do que se trata a peripécia, e observamos que ela, protagonizada pelo mensageiro, contribuiu para que o reconhecimento se desse. Diz Aristóteles sobre essa relação: "O mais belo dos reconhecimentos é o que sobrevém no decurso de uma peripécia, como acontece no Édipo".

Por fim, temos o acontecimento patético ou catástrofe que consiste em nada mais que, nas palavras de Aristóteles, "uma ação que provoca morte ou sofrimento, como a das mortes em cena, das dores agudas, dos ferimentos e outros casos análogos". A tragédia é, ao contrário do que alguns podem pensar, o todo, isto é, a história em sua integridade - as mortes, a autoflagelação e o sofrimento (os protagonistas desse terceiro item) nada mais são que uma espécie de clímax, isto é, a cereja do bolo. Nesse ponto há uma questão a se levantar. Como o próprio gênero da obra é a tragédia, o elemento trágico é bastante evidente na obra de Sófocles, principalmente nos momentos em que Jocasta se suicida e Édipo se cega com os alfinetes. Porém, ao contrário do que faz com a peripécia e o reconhecimento, Aristóteles apenas cita esse elemento e não especifica a importância desse artifício para a narrativa.

Ouso aqui, enquanto um leitor leigo, tentar explicar a tragédia, o gênero, e a importância de suas inevitáveis "tragédias", isto é, os acontecimentos catastróficos aos quais Aristóteles faz referência. Para que se faça ilustrar o que aqui digo, tomo os exemplos de Édipo Rei, de Sófocles, e de Hamlet, de Shakespeare (cuja historia, já representada e adaptada para os mais diversos meios, se faz mais presente quase que em toda cultura popular), ambos, apesar de publicadas com um hiato de quase 2 mil anos, são considerados tragédias. Aos desavisados: em Hamlet, acompanhamos a história de um jovem príncipe (que dá nome à peça) que busca vingar a morte do seu pai, o antigo rei.

Acontece que ambas as histórias têm pontos críticos, os quais precedem o acontecimento patético ou catástrofe. No caso de Hamlet, decidido a assassinar o próprio tio, regicida e atual rei, o jovem príncipe, na cena final, em um combate de armas, acaba por conseguir vingar o pai, porém todos que estão presentes no salão acabam mortos, inclusive nosso herói. Em Édipo Rei, Jocasta e Édipo acabam em desgraça ao serem confrontados por sua real condição. Mas afinal, como esses finais são justificados?

Saber lidar com problemas é uma habilidade com a qual poucos são agraciados. Até em pequenas situações cotidianas passa à mente a fácil e tentadora possibilidade de abdicar da vida. Nos grandes e irreversíveis problemas, porém, a situação é mais extrema, e a morte não é apenas o caminho mais viável, como também tentadora, seja pelo medo, pelos receios ou pela vergonha. O personagem, em um momento de quase esclarecimento, admite a si mesmo que não é capaz de lidar com a situação e a única alternativa é, em vida, ser exposto a um julgamento possivelmente injusto da sociedade, ou morrer. 

Hamlet mata o rei, e parece bastante plausível que ele morra, uma vez que ele vinga o pai através dos relatos do fantasma deste, testemunha muito pouco palpável que faria do jovem Hamlet, também, um regicida. Em Édipo Rei, Jocasta em especial, se suicida por não ter culhões de olhar aos próprios filhos e ver neles, também, seus netos; de acordar todos os dias e ver no seu esposo o seu filho; de ter olhos sobre si que fazem julgamentos pessoais e pouco flexíveis. O acontecimento patético ou catástrofe representam, no fim das tragédias, uma última possibilidade para vidas que estariam destinadas a serem desgraçadas e desprovidas de qualquer motivação.

O destino

Certamente não há o que mais amedronte o homem senão aquilo que ele desconhece. O futuro, porém, e em especial o seu próprio futuro, muitas vezes é alvo de tamanha curiosidade (seja pela vontade de saber se os cultivos da vida presente renderão frutos, ou até mesmo para saber se a vida presente e seus desafios valem ser vividos, caso o que o futuro lhe reserve seja ou não o que se espera) que leva os indivíduos a se valerem dos mais diversos meios para conhecê-lo. Nos dias de hoje, por mais informações que as pessoas tenham a seu dispor, muitas ainda buscam cartomantes e videntes, apesar de que, na maioria dos casos (para não dizer em todos), são vigaristas e charlatões, na esperança de que lhes deem alguma esperança para problemas financeiros, amorosos ou propriamente psíquicos.

Perceba que a esperança nada mais é do que uma previsão (que somente o tempo julgará ser genuína ou não) à qual a pessoa busca se agarrar e buscar levar a vida mais tranquilamente. Certamente foram estas mesmas intenções que levaram dois personagens importantes para a trama de Édipo Rei, Laio e o próprio Édipo, a buscarem a consulta de oráculos. No caso da trama, que se vale do fator fantástico muitas vezes inerente à narração fictícia, os oráculos eram verdadeiros e suas profecias genuínas, portanto nos levam a uma reflexão bastante interessante. É prudente que o homem saiba o seu futuro? Sabê-lo muda, de alguma forma, a sua história ou até mesmo o próprio futuro? Ou ainda, o futuro é um fator aberto a mudanças?

Trazendo a discussão para uma obra contemporânea, no livro A Dança dos Dragões, quinto livro de As Crônicas de Gelo e Fogo, de George R.R. Martin, lady Melisandre, devota ao Deus Vermelho que recebeu de R'hllor a graça da visão nas chamas, ao fazer uma profecia diz o seguinte: "E pode ser que, se agir, você possa evitar completamente o que vi. - De outro modo, para que serviriam as visões?". Pois é. Se o oráculo de fato era capaz de prever o futuro, um objetivo plausível seria justamente informar os protagonistas daqueles fatos vindouros para que eles, quando se tratasse de alguma mazela, buscassem evita-la.

A questão é que, se de fato era esse o objetivo, tanto Laio como Édipo falharam miseravelmente. Laio não conseguiu que o filho fosse morto, pela piedade de um servo. Édipo não conseguiu não matar o pai, uma vez que se afastou e evitou por anos a pessoa errada. Ainda mais, há de se questionar: haveria a possibilidade de ter sido diferente caso nenhum dos dois (ou uma das partes) não tivesse tomado conhecimento dos oráculos? Teria o destino deles, ao ser ditado pelo oráculo, se tornado inevitável? Ou o destino de ambos já estava devidamente traçado desde os primórdios?

Todas estas são questões que não ouso sequer tentar responder.

Material consultado:

"Édipo Rei", de Sófocles
"Arte Poética", de Aristóteles
"Outline of Aristotle's Theory of Tragedy in the Poetics", de Barbara F. McManus (acesso em 09/01/15)
"Hamlet", de William Shakespeare
"A Dança dos Dragões", de George R.R. Martin (capítulo 32 - Melisandre)

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Livros e idiotas: uma resposta à revista Bula

Em algum momento de nossas vidas nós nos deparamos com atos ou comentários preconceituosos de qualquer ordem. O fenômeno é natural, mas não por isso menos condenável. Quase sempre advém do fato de um lugar ou uma prática, que outrora pertencia a um pequeno e seleto grupo, passar a ser frequentado ou praticado pelas outras pessoas, ou seja, o público geral. É um fusca entrando num shopping center, os smartphones chegando às favelas... ou a literatura começando a ser de interesse de todos.

Chegou até mim um texto da revista Bula, assinado pelo publicitário Tadeu Braga, chamado "10 livros para idiotas". A proposta é bem autoexplicativa: o autor lista 10 títulos de livros que, segundo ele, são lidos por idiotas. Eu, particularmente, conheço todos e já li alguns dos citados - tendo gostado bastante da experiência -, portanto, fui um dos atingidos pela alcunha de "idiota".

O autor inicia seu texto dizendo que "Está enganado quem acha que idiotas não leem.", e nisso eu concordo plenamente com ele. Idiotas estão por todos os lugares, fazendo as mais diversas coisas (alguns até escrevem em revistas). Logo após critica que "autores sem talento" estejam ficando multimilionários por conta desses leitores "idiotas". Mais adiante, ainda nos dois parágrafos introdutórios, nivela aqueles que falam "indiota" com quem acha que Harry Potter é a melhor coisa que já leu na vida. 

Pois então, eu digo: Harry Potter é uma das melhores coisas que já li na vida, por diversos motivos, sendo o mais profundo de todos o valor sentimental que me remete à infância e a minha inserção no mundo mágico de Hogwarts. Além do mais, J.K. Rowling deve ser aplaudida de pé por ter feito uma história tão envolventemente boa a ponto de fazer com que crianças começassem a ler e, consequentemente, perdessem o receio infundado de que livros são para poucos, que é oriundo de toda nossa lamentável história e cultura com a literatura - que quer ser perpetuada por pessoas como o autor do infeliz texto aqui tratado. A história de Harry Potter é, no início, um conglomerado de elementos pagãos e da literatura fantástica clássica, para depois, com o passar dos anos, começar a andar com as próprias pernas. Se não é das mais originais histórias, nem das de maior qualidade literária, com certeza serve para dar o mínimo de bagagem para que seus leitores não saiam falando "indiota" - e isso eu garanto.

A tal lista feito pelo publicitário é, sem dúvida, controversa e polêmica - isso porque traz tanto alguns títulos já anteriormente classificados como literatura de baixa qualidade, como também clássicos absolutos da literatura.

A lista dos famigerados livros de "baixa qualidade", que já apanharam incansavelmente da crítica, não poderia ser diferente: "Cinquenta Tons de Cinza" de E.L. James, "Crepúsculo" de Stephenie Meyer, e "Inferno" de Dan Brown. Vamos de trás para frente. Já li todos os seis livros do Dan Brown (e adivinhei, sem maiores problemas, o final do último) e inclusive já falei sobre isso: encaro a leitura como um guilty pleasure, ou seja, um prazer culpado. Sim, os personagens são superficiais, depois de um tempo os acontecimentos são previsíveis, a fórmula se repetiu exatamente em todos os livros (com exceções em "O Símbolo Perdido"), mas ao mesmo tempo, o autor nos dá uma enxurrada de dados históricos que tangem os verdadeiros interesses da trama (arte e simbologismo, no caso das histórias de Robert Langdon), e pitadinhas de cultura inútil que, afinal, também são muito interessantes. Dan Brown não é dos autores mais complexos e profundos, mas ler, por si, já é um ato que traz consigo toda uma bagagem de vocabulário e desenvolve a atenção daquele que está à frente do encadernado (no mínimo, é claro).

O mesmo deve ser aplicado aos demais. Que a jovem insegura leia Crepúsculo, que a tiazona leia Cinquenta Tons de Cinza: se aquilo as prende, se lhes é interessante, então ótimo! Só aí já então entrando no incrível mundo da literatura. O grande problema é ficar apenas nisso e se contentar sempre com narrativas fáceis e de enredo ordinário. Mas veja: ainda bem, não é isso que acontece na maioria dos casos. A menina que lia John Green vai se perguntar quem é o tal Machado de Assis. O menino que lia Goosebumps vai querer saber o que tem de tão extraordinário em Os Miseráveis. A questão que incomoda muitos, inclusive o autor da lista, é ter esses livros como porta de entrada para um mundo que antes era deles e apenas deles. Lamentável. Por isso, devo dizer: leia tudo que te interessar, tudo que parecer merecedor da sua atenção, mas busque sempre ir à frente, procurar os clássicos e se informar sobre. Ninguém nasce com um volume de José de Alencar na mão. Vá aos poucos, mas dê passos conforme sua habilidade em encarar livros permitir.

A parte mas irritante da lista é quando o autor fala sobre os livros clássicos que os "idiotas" leem, preste atenção: "O Retrato de Dorian Gray" de Oscar Wilde, "A Hora da Estrela" de Clarice Lispector, "Assim falou Zaratustra" de Friedrich Nietzsche, e "O Morro dos Ventos Uivantes" de Ellis Bell. O autor do texto diz que "livros para idiotas" são diferentes de "livros idiotas". O argumento é o mais cretino possível: segundo ele, os leitores atuais que buscam esses livros não trazem consigo as "motivações corretas". Para ele, ler Nietzsche é apenas uma moda entre "idiotas que querem falar sobre filosofia" e ateus radicais. Veja bem: eu já tentei me arriscar na leitura de Zaratustra, e dei com a cara na parede. O livro é assaz complicado e traz consigo uma série de metáforas complexas que faltaram-me culhões intelectuais para leva-lo adiante naquele momento. Pois então, se os "idiotas" o leem, que bom! Assim estão buscando livrar-se de tal condição, estão querendo sair da caverna de Platão! (Ou será que, em minha mera condição de estudante, é um ato idiota citar Platão?) Sobre os ateus mais radicais, nem para falar desta ala mais juvenil e imatura intelectualmente que vem crescendo o autor do texto acerta. Seria uma boa crítica falar que muitos dos ditos "céticos" não têm qualquer respaldo literário para suas convicções, mas não é o caso! Eles buscam tanto inspiração quanto respaldo para suas teorias na literatura de Nietzsche.

No caso de "O Morro dos Ventos Uivantes", ele não é menos falacioso, afinal, considera "idiotice" que muitos busquem esse clássico apenas por terem tomado como referência "Crepúsculo", onde o livro supracitado é o preferido da protagonista deste best-seller, Bella Swan. Ler clássicos só por ter visto uma personagem o lendo, que absurdo, que idiotice! (?) Com Oscar Wilde e Clarice Lispector, os preconceitos do autor não param. Para ele, é um absurdo ler Dorian Gray apenas por ali se tratar de um velado amor homossexual, além do próprio autor ser declaradamente gay. E ainda, com Lispector, buscar seus romances apenas por ter visto seu nome uma ou outra vez na internet não é coisa que se faça! (Ao menos na cabeça do autor dessa lista, é claro).

Num país como o nosso, onde a maioria das pessoas lê menos de um livro por ano, há espaço para que alguém debata as motivações do indivíduo ao buscar um livro? Não que não seja algo a se  fazer, mas nossa situação não é das melhores para julgar se há naquela busca pelo livro os motivos mais nobres ou moralmente corretos. Buscar por um livro, entrar numa biblioteca, numa livraria, ou seja, ver nos livros um certo interesse já é o suficiente para buscar certa elucidação e/ou se diferenciar do meio na busca de informações e, por que não?, de entretenimento. Idiotice, ao menos me parece, é querer conter a curiosidade de um leitor em potencial através desse tipo de policiamento moral.

Outros três livros que, segundo ele, destinam-se a idiotas são os lançados pelo Felipe Neto, pelo Porta dos Fundos e pelo Justin Bieber. A mim realmente não importa se o Felipe Neto tenha boas estórias para contar, se o Porta dos Fundos tem bons roteiros ou se o Justin Bieber tem história suficiente aos 16 anos para lançar uma biografia. O que importa é que existem pessoas que são muito fãs, outras que são fascinadas pelo trabalho dos três aqui citados. O meu caso, pelo visto, se aproxima do do autor do texto, que é não ter admiração o suficiente para comprar um livro dos tais midiáticos, porém, é fácil notar certa imparcialidade ao colocar casos semelhantes em nossas vidas. Já comprei um livro deluxe collection de Game of Thrones, muitos já compraram livros-atlas de O Senhor dos Anéis, outros já adquiriram seus mimos de The Beatles. Seguindo a lógica do autor, que vê tudo de fora, numa óptica bastante míope, esses livros não terão nada a acrescentar em nossas vidas, porém, àqueles que tem como ídolos quem quer que seja, um livro como esse os faz se sentir mais próximos e mais conectados àqueles que admiram. Estão errados ao fazê-lo? Creio que não.

Por fim, digo o seguinte: tudo que permeia o raciocínio do autor dessa lista infeliz não é apenas idiota (para não perder a oportunidade), mas também falacioso e elitista. O mercado editorial brasileiro está mudando, e muitos relutarão em aceitar que seu ambiente cult agora está cada vez mais popularizado (ainda bem!), e formando leitores vorazes a cada dia. A frase é piegas, mas vale em todo um sentido a ser refletido: livros não mudam o mundo, mas leitores o mudam.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

O padeiro que fingiu ser rei de Portugal - Ruth MacKay

"A história do pastelero de Madrigal está cheia de disfarces, aparições de surpresa e uma preocupação em distinguir verdade de ficção, expedientes teatrais familiares às plateias da época. É impossível saber se nossos atores passaram por esses caminhos, mas é tentador encontrar por ali a inspiração para conspirar e também imaginar ressonâncias depois do fato ocorrido" - Ruth MacKay

História de Gabriel de Espinosa, padeiro em Madrigal
que fingiu ser o rei D. Sebastião de Portugal
Hoje vamos tratar do livro "O padeiro que fingiu ser rei de Portugal", da Ruth MacKay. Durante e após a leitura do livro, eu procurei algumas informações sobre a autora, mas não encontrei nada de substancial, nem na página da Stanford, onde ela é editora e professora. Esse é mais um livro que veio com a pegada das editoras em lançar livros de história, assim como a Leya fez com os "Guias politicamente incorretos", do Leandro Narloch, e a Globo fez com os "mil e oitocentos", do Laurentino Gomes (sobre ambas as coleções trataremos ao longo de 2014 aqui no blog). A Rocco não fez diferente, e com todo esse conjunto de uma capa muito bonita, um título muito sugestivo e uma sinopse muito empolgante, eu logo comprei o livro. Olha ele aí:


Antes de mais nada, preciso reiterar o que eu disse acima: este é um livro de história, um assunto que particularmente me fascina, mas se o mesmo não acontece com você, é melhor passar longe dele. Enfim, o livro tratará de um fenômeno denominado sebastianismo, que nada mais foi que um conjunto de conspirações envolvendo a morte do rei Sebastião de Portugal. Apesar de pincelar outros casos, MacKay vai se focar, como o próprio título sugere, no caso de um padeiro que vai se passar pelo falecido rei Sebastião.

O livro se inicia falando sobre o Sebastião, desde o seu nascimento até seus atos como rei. Reza a lenda que quando nasceu, estava virado para o lado da África, e inclusive, anexado ao texto, o livro traz um mapa matemático e astrológico, encomendado pelo reino, sobre o que isso poderia significar. Jovem, mesmo antes de assumir o trono, Sebastião já se mostrava doentio, com ojeriza à mulheres e excessivamente religioso (estes dois últimos fatores podem estar interligados, considerando que Sebastião tinha convívio com muitos jesuítas). Porém, logo após assumir o comando do país, o rei de 14 anos começou a se inspirar em seus antepassados, inclusive em seu avô Carlos V, e quis, de alguma forma, também ser lembrado. Por isso, tomando como rumo as teorias sobre ele ter nascido apontado para a África, ele decide que este seria o rumo que deveria tomar para buscar sua grandeza. Mais uma vez, guiado pelos jesuítas, ele, com 20 anos de idade, decide que invadirá o Marrocos para reconquistar o respeito de sua pátria e combater os infiéis (no caso, os mouros, que não eram cristãos). Então, após quatro anos de negociações infrutíferas e desapoio de grande parte dos nobres e, inclusive, de seu tio, Felipe II, rei da Espanha, Sebastião parte. Os soldados estão sem nenhum incentivo para lutar, pois sabem que com o exército que contam, a derrota é certa, afinal, para cada cristão havia, pelo menos, 300 mouros. Todos pareciam saber disso, menos Sebastião. Este, mesmo diante da total calamidade do seu poderio, resiste e luta bravamente até o fim (portanto, podemos chama-lo de tudo, menos de covarde). Até que, em certo momento em que o seu exército estava quase que desfalcado, Sebastião coloca um lenço branco na ponta de sua espada e se rende, em sinal de paz. Mas estamos tratando de mouros e estes, não entendendo o que aquilo significava, e notando quem era aquele cavaleiro, o desmontaram e o esquartejaram-no (uma tarefa que dividiram entre os muitos presentes). Ao fim de tudo, na calmaria, com Portugal oficialmente derrotada, os oficiais partem em busca dos restos mortais do rei. Esta foi uma outra missão portuguesa incompleta, pois nunca encontraram o corpo de Sebastião. E é nesse ponto que nasce a trama de todo o livro.

Sem o corpo do rei, prova cabal de que este havia factualmente expirado, muitas teorias começam a ser criadas (a de maior circulação era de que o rei se escondera para retornar quando Portugal estivesse em grande dificuldade), que passaram ainda a serem mais aceitadas quando a crise sucessória se iniciou. Sebastião não tinha herdeiros, nem irmãos, nem pais (vivos). Situação esta que deixava como sucessores em potencial apenas três pessoas: seu tio avô, cardeal D. Henrique; seu tio, o rei da Espanha Felipe II; e D. António, filho ilegítimo de seu tio avô Luis. Henrique assume de cara, mas, já idoso, não demora a falecer e entrega o reino a Felipe II, rei da Espanha. Mas, por incrível que pareça, o que mais tinha apoio popular era D. António, e é a partir de sua pretensão ao trono que nasce a história do padeiro que fingiu ser rei de Portugal.

Em Madrigal de las Altas Torres, centro-norte da Espanha, vivia um frei chamado Miguel, um brilhante teólogo, hábil líder, carismático e extremamente persuasivo (como perceberemos a seguir). Acontece que o frei era um dos grandes apoiadores de D. António, mas percebendo que este não tinha grandes chances de chegar ao trono, monta um plano para tentar ajuda-lo. Ele escolhe Gabriel de Espinosa, um padeiro, para que este finja ser rei Sebastião (que não voltará tão cedo às suas atividades como monarca por estar muito enverganhado pela derrota na África). O outro pauzinho de frei Miguel era Ana de Austria, prima de Sebastião (o verdadeiro). Com ela, ele pretendia casar o suposto Sebastião, para que assim o casal reclamasse o trono. E então você pode se perguntar: mas como colocando um potencial rei no trono ajudará a causa de D. António. Pois é, meus amigos, aí entra a lista de prioridades de D. Miguel. Ele queria, primeiro tirar o rei espanhol do trono português, e depois mostraria a farsa, o que colocaria D. António como um único rei em potencial.

A partir daqui, me abstenho dos detalhes da história. Se o plano deu certo, sim ou não e porquê, você só saberá lendo. Agora, gostaria de falar um pouco sobre a estrutura do livro. Não me resta dúvidas de que MacKay fez uma excelente pesquisa, mas talvez o problema esteja nos detalhes dos detalhes. Eu diria que este livro é uma grande árvore, cuja tronco é frei Miguel, Gabriel de Espinosa e Ana de Austria, e destes saem os muitos galhos, sendo alguns desses importantes, mas outros muitos dispensáveis. Para ter uma ideia: quando um personagem importante está sendo transportado, ela pesquisa a história do guarda que o acompanha, o que deixa a evolução da história, que naturalmente já é lenta, mais lenta.

Para uma grande quantidade de personagens, lugares e ligações familiares, nos é disponibilizada nessa edição uma lista de todos os personagens com um pequeno resumo de quem são, um mapa de Portugal e Espanha (com um destaque à micro-região de Madrigal) e uma linha genealógica da família real, que inclui os filhos ilegítimos. A grande parte dos documentos consultados pela autora eram em espanhol, por isso, mesmo na tradução destes, nos são disponibilizados alguns termos da língua original, o que só tem a acrescentar na compreensão do que foi dito. 

Como eu mencionei os outros sucessos editoriais sobre história, cabe uma pequena comparação. Este livro não é fácil de ser lido, em comparação com os "Guias politicamente incorretos" e os "mil e oitocentos". Mesmo dispondo de bastante tempo nas férias, levei cerca de 5 dias para concluir a leitura das 300 páginas. Isso pode ter dois motivos: as duas coleções citada acima foram escritas por jornalistas, e não propriamente por historiadores, como é o caso deste aqui resenhado; outro motivo pode ser o excessivo detalhamento da autora, que já pegou um caso bastante específico e desconhecido.

De qualquer maneira, não é um livro ruim. Como qualquer livro de história, nós estaremos envoltos na ambição humana, e ao menos tentar compreender o que leva o ser humano a fazer loucuras pelo poder e pelo que acredita ser o correto, mesmo que isso custe caro, é muito interessante. Por isso, se o tema do livro te interessar, não hesite em lê-lo.

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quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

O Chamado do Cuco - Robert Galbraith

"Como era fácil tirar proveito da tendência de uma pessoa à autodestruição; como era simples empurra-las para a inexistência, depois recuar, dar de ombros e concordar que este fora o resultado de uma vida caótica e catastrófica."


Exatamente no dia treze de julho deste ano, nos foi revelado que J. K. Rowling, a melhor autora da atualidade, teria um livro publicado desde abril. Mas, como não virou best-seller? Como todos não estavam lendo esse livro? Como não haviam milhões de resenhas e críticas nos blogs e no YouTube? Como as editoras não lotaram sites de venda e revistas com publicidade do livro? Para todas essas perguntas há uma resposta muito simples: Rowling optou por escrever um livro sob um pseudônimo e, mais que isso, se esconder por trás dele durante três meses. Isso, disse ela, por que queria verificar se seus livros eram, de fato, de qualidade ou se vendiam aos milhões apenas por ter seu nome. Obviamente que o Chamado do Cuco não enriqueceu os donos de livrarias (até porque teve uma primeira impressão despretensiosa e sem publicidade), mas nem de longe foi um fracasso editorial, e mesmo sem nunca aparecer, dar entrevistas (até porque não existe), o anônimo Galbraith recebeu uma proposta para que seu livro virasse um filme! Rowling não poderia ficar mais satisfeita ao concluir que sim, ela é fantástica ao escrever (eu já sabia disso).

E então, horas após o anúncio, o ebook de The Cuckoo's Calling ficou em primeiro nas vendas da Amazon e a editora do livro logo botou dezenas de milhares de novas cópias da obra para serem impressas. E veio a pergunta: quem vai publicar aqui no Brasil? A resposta não demorou a vir: a Rocco! Isso deixou muita gente apreensiva, pois esta editora será lembrada eternamente pelas edições terríveis que fez com a série de maior sucesso do globo, Harry Potter. Entretanto, quem apostou em um trabalho porco da Rocco, perdeu. Foram três formatos disponíveis: ebook, brochura e capa dura. Eu tive contato com esses três formatos e posso dizer sem medo de errar: as edições estão impecáveis, lindas. Além do mais, foi ótima a preferência pela capa original britânica, pois a americana é horrível (depois procure no Google). Eu dei preferência à edição em capa dura, veja:



Dadas as devidas apresentações, vamos falar um pouco sobre a história. Como este é um livro policial, não posso dar muitos detalhes sobre o enredo (muitos desses pequenos detalhes podem se tornar grandes spoilers, mesmo que você não tenha lido o livro). Lula Landry, uma super modelo multi-milionária, cai da sacada de seu prédio e morre. A imprensa faz um estardalhaço, e relembra todos os fatos de sua vida, as drogas, os desequilíbrios, as intrigas amorosas. Todos tem sua teoria sobre o que desencadeou a morte de Lula, mas logo todos concluem que foi um suicídio. O caso amorna e todos esquecem.

Três meses depois, nos é apresentada a Robin Ellacot, uma jovem que está radiante com a perspectiva de uma nova vida, afinal, na noite passada seu namorado, Matthew, com quem ela foi morar em Londres, a pediu em casamento; além disso, ela parece confiante para o novo emprego que conseguiu através da Temporary Solutions. Chegando lá, a surpresa: a mandaram para um escritório de um detetive particular... O sonho de criança de Robin sempre foi trabalhar como detetive (mas ser secretária de um parecia igualmente empolgante). O detetive é Cormoran Strike, um cara bem acabado que teve uma parte de sua perna direita decepada durante o período em que serviu no exército, no Afeganistão. Os dois logo se dão bem, porém Robin vai percebendo algumas coisas estranhas em Cormoran, como alguns machucados recentes e uma mala com utensílios domésticos dentro de seu escritório. Sob a perspectiva de Strike, ficamos sabendo que ambos são frutos de uma briga com a noiva, Charlotte, com quem ele morava, o que o obrigou a morar em seu próprio escritório.

Logo no primeiro dia de Robin, ela vai à sala de Strike avisar que havia um cliente na sala de espera. Ele se assusta, afinal, enfrentava uma crise, na qual ele tinha apenas uma cliente (a senhora Hook, que desconfia que seu marido a trai). Por fim, manda que o cliente entre... E depois uma nova surpresa: o homem era bem vestido, polido e rico. Um cliente desses poderia ser a chave para todos os problemas financeiros de Cormoran. E adivinha quem era o cliente? John Bristow, irmão da falecida Lula Landry; e talvez pareça improvável e até um pouco forçado que um rico vá contratar os serviços de um detetive decadente, mas é típico da Rowling colocar esses pequenos absurdos, que depois são bem justificados. Acontece que Strike, quando pequeno, foi muito amigo do irmão de John, Charlie Bristow, que morreu num acidente numa pedreira, ainda criança. John diz que escolheu Strike como detetive em memória de Charlie. Ele, John, está desesperado, pois acredita, mesmo depois de um quarto de ano de unanimidade na imprensa, que sua irmã, na verdade, não cometeu suicídio, mas sim que fora atirada da janela. No início, Cormoran fica assustado em pegar um caso dessas dimensões, ainda mais quando há um consenso de que Lula se suicidou, acreditando que seria tomado como um explorador de um rico desesperado. Entretanto, com muita insistência de John, Strike resolve aceitar o caso.

Lula foi adotada pela família Bristow, cujo patriarca era o Sir Alec Bristow, casado com a Lady Yvette. Por ser estéril, Alec teve que adotar todos os filhos. Após a morte de Charlie, o irmão de Alec, Tony Bristow, foi ferrenhamente contra a adoção de Lula, mas mesmo assim o fizeram. Depois de famosa, Lula ela passou a morar em um luxoso prédio de apenas três andares. Ela morava no terceiro e o primeiro era do famoso produtor de cinema Freddie Bestigui e sua esposa, Tansy Bestigui. O segundo andar estava vazio, esperando pela chegada do famoso rapper Deeby Macc. Sabe-se também que ela procurou sobre suas origens, chegando a manter contato com sua mãe biológica, que também morava em Londres. Entretanto, sua vontade maior sempre foi de achar o pai.

Num determinado momento, no fim da semana de trabalho de Robin (que é uma peça importantíssima na história), eles decidem por manter o contrato e ela seguir como sua secretária.

O livro é muito interessante pelo seguinte: como toda investigação, a base de tudo é a observação e os interrogatórios. Eu diria que pelo menos metade do livro é apenas de Strike interrogando as pessoas envoltas no caso de Lula, como os vizinhos, os policiais que atenderam a ocorrência, as amigas, os familiares... E até antes das últimas 90 páginas, tudo está uma tremenda confusão, por um motivo muito simples: o narrador nos dá apenas o diálogo entre Strike e o entrevistado, mas não dá as conclusões que ele tira. Então, a cada entrevista, salvo algumas exceções, algo de novo é acrescentado. Mas o porque de ele ter dado ênfase àquele pequeno detalhe,porque ele disse 'aquilo', você saberá apenas nos 47 do segundo tempo. Isso me incomodou um pouco no início, onde o livro apenas joga um monte informações e fatos, mas sem qualquer organização. Mas então compreendi que no fim, ele remontaria todo o caso de cabo a rabo e explicaria suas conclusões, tintim por tintim.

No desfecho da história, onde tudo nos é revelado, eu fechei o livro e bati com ele na minha testa. Apesar de eu já ter ouvido alguns spoilers, a conclusão não deixou de ser emocionante, pois a revelação em si já é muito bacana, mas o que interessa não é uma simples afirmação. O grande barato é você ver todos aqueles fatos, antes zanzando desordenadamente pela sua cabeça, sendo peças importantes para a montagem do quebra-cabeça.

Se você se interessar pelo livro, pode clicar aqui e visitar a incrível página que a Editora Rocco fez em seu próprio site exclusivamente para O Chamado do Cuco. Sobre o filme, nada é confirmado ainda, e todas as afirmações são construídas no pretérito imperfeito (ou seja, só há especulações sobre quando o filme começará a ser produzido). E, para melhorar, a Rowling já confirmou que está escrevendo um outro livro, com uma nova investigação de Cormoran Strike. Melhor impossível. Estaremos atentos.

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quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

A Fúria dos Reis - George R.R. Martin

"O poder reside onde os homens acreditam que reside. Nem mais, nem menos"
- Lorde Varys


Olá! Hoje, após um longo e temeroso inverno, estamos de volta com o blog! E não poderíamos retoma-lo de melhor forma, senão com um livro do maior fenômeno global da fantasia moderna: George R. R. Martin! Sim, meus queridos, estamos falando sobre as incríveis e sensacionais Crônicas de Gelo e Fogo! Hoje, então, vamos falar um pouco sobre o segundo volume, A Fúria dos Reis. Caso você não saiba, eu já fiz a resenha do primeiro volume, A Guerra dos Tronos, que você pode ler clicando aqui.

Um aviso importante: Esta é a resenha do segundo volume e, como não poderia ser diferente, daqui para baixo teremos spoilers do primeiro livro, portanto, se você não o leu e nem assistiu a primeira temporada da série, eu me pergunto: o que você está fazendo aqui? A não ser que queira que eu estrague as surpresas do primeiro volume, suma daqui. Até logo.

Eu pretendia ler esse livro apenas nas férias, mas comecei bem antes (tanto que esta resenha está saindo bem no início das férias). Tudo isso porque George Martin não é um autor a ser postergado, e como eu mostrei na resenha anterior, eu já comprei toda a coleção, então, com ele na minha estante, a vontade bateu e eu logo comecei. Olha ele aí:



A história de A Fúria dos Reis não tem nenhum pulo em relação ao Guerra dos Tronos, ou seja, ele se inicia pontualmente onde a primeiro volume acaba. E vocês bem sabem o quão trágico é o fim daquele livro. Você, quando termina, sente um vazio enorme... E com esse segundo volume não é diferente. Terminei de lê-lo numa noite e fiquei um tempo em silêncio, pensando... Muito desolado. Sério. Mas, o porquê vocês terão de descobrir lendo. Por enquanto, vamos nos contentar em falar sobre o que está acontecendo no começo do livro, quais serão os estopins para os grandes acontecimentos da história.

Desta vez, o livro ganha dois novos personagens de ponto de vista, ou seja, personagens cujo ponto de vista será a base para a narração em terceira pessoa de Martin. São esses Davos Seaworth e Theon Greyjoy.

Os personagens e a história

Em Westeros, no começo de A Fúria dos Reis, está passando um grande cometa vermelho. Até mais da primeira centena de páginas, haverão personagens dando suas opiniões sobre o que ele representa. Apesar de parecer apenas mais um fenômeno natural, este cometa levará, em alguns momentos, a história para outros rumos.

O prólogo do livro já nos apresenta um novo cenário, composto por personagens novos e por alguns que outrora foram apenas comentados. O personagem de ponto do vista desse capítulo é Meistre Cressen, que é Meistre da família Baratheon, e está em Pedra do Dragão a serviço de Stannis. Este, após a morte do irmão e rei Robert, está reclamando ao trono, e se considera o legítimo herdeiro do trono de ferro (pois acredita que o atual rei Joffrey não era filho de Robert, mas sim um fruto de incesto entre os irmãos gêmeos Cersei e Jamie Lannister), entretanto, não possui carisma algum e é inflexível na hora das negociações, o que faz com que fique isolado. Porém, para não ficar de fora, ele decide se aliar uma religião oriental, e conhece Melisandre, a sacerdotisa vermelha. O Meistre Cressen, porém, percebe que os meios usados por esta sacerdotisa são espúrios (e de fato são) e ela tem norteado a mente de Stannis a lados indesejados. Por isso, decide mata-la, porém, ela foi mais esperta e, percebendo essa intenção, fez com que o Meistre Cressen morresse logo na primeira dezena de páginas do livro.

Agora, quem vai estar presente nos acontecimentos de Pedra do Dragão será Davos Seaworth, um ex-contrabandista que, de alguma forma, ajudou a tropa de Stannis a sair de uma enroscada e, por isso, foi nomeado cavaleiro e apoiador da causa do irmão mais velho de Robert. O seu propósito é, pelo menos nesse livro, cercar a história de Stannis, agora um devoto ao Senhor da Luz, e nos mostrar o que ele planeja e como pretende agir em sua busca pelo trono. Apesar de tudo, há somente dois ou três capítulos de Davos no livro.

Outra personagem que aparece pouco nesse livro é Daenerys Targaryen: não contei mais que cinco ou seis capítulos dela. No fim do primeiro volume, três vidas são perdidas por ela: a de Khal Drogo, o seu marido, a de Mirri Maz Duur, uma maegi, e do seu filho, que morreu ainda em sua barriga. Em compensação, destas três vidas nascem outras três, a dos dragões de Daenerys. Agora, acompanhada deles, ela vê o cometa e, o seguindo, chega à cidade de Qarth que, segundo o bruxo Pyat Pree, "é a maior cidade que já existiu ou existirá. É o centro do mundo, o portão entre o Norte e o Sul, a ponte entre o Leste e o Oeste, mais antiga do que a memória do homem, e tão magnífica que Saathos, o Sábio, arrancou os olhos depois de vê-la pela primeira vez, porque sabia que tudo o que veria daí pra frente pareceria miserável e feio". Veja bem: não é um lugar muito humilde. Lá ela procura apoio financeiro para poder bancar a sua volta a Westeros para retomar o Trono de Ferro, que considera ser seu por direito, já que antes de pertencer a Robert (a quem chama de o Usurpador), pertencia a seu pai, Aerys. Em Qarth, ela terá boas surpresas, mas, para ser bem sincero, ao menos na parte dela, a série da HBO foi melhor, mais interessante.

E se até agora falamos apenas de personagens que aprecem pouco durante a narrativa, Tyrion Lannister vem agora para compensar. Este anão, da família mais rica e influente do reino, filho do poderoso Tywin e irmão da rainha Cersei, é um dos personagens mais legais de toda a série. Ele é incrível, mais ainda agora que ocupa o cargo de Mão do Rei (uma espécie de primeiro-ministro). O que se percebe é que ele, apesar de ser um Lannister, é super centrado em seus planos que, muitas vezes, vão contra os interesses do rei Joffrey e da rainha regente Cersei. Isso desperta muito a ira deles, o que o deixa muito mais legal. Aliás, eu diria que ele, agora como parte do governo, está lá para maneirar os atos do rei adolescente (que como tal quer ser um absolutista) e cortar os excessos. Além de tudo, é incrivelmente inteligente, estrategista e persuasivo (tanto que ele, no livro anterior, fez um exercito com selvagens que outrora queriam sua pele). Não é a toa que já tem um livro chamado "A filosofia de Tyrion Lannister". E sob a ameaça do ataque de Stannis à Porto Real, ele vai atrás de alquimistas para produzir uma certa substância muito perigosa, o fogovivo, que pretende usar caso o irmão mais velho de Robert decida atacar a terra do rei. Nós também entramos em sua vida amorosa. Desde o primeiro volume, sabemos que ele está namorando Shae, uma prostituta. Com Tyrion, vemos tanto os conflitos bélicos quanto os amorosos, vemos injustiças e estratégias, o controle e a sua ameaça. Este é, sem dúvidas, o personagem de maior destaque desse livro.

Apesar do Tyrion ser incrível, o meu personagem preferido da toda a série é Brandon Stark, por vários motivos. Assim como na maior parte do último livro, neste ele é nossa única fonte de informações sobre o norte, onde fica Winterfell. Entretanto, em Guerra dos Tronos, ele é um personagem muito passivo, tanto por ter ficado aleijado, tanto pela falta ações dele. Neste livro, entretanto, ele já é ativamente o príncipe de Winterfell e, apesar de não estar ativo na guerra contra os Lannister com o irmão, o personagem se desenvolve de uma forma muito interessante, por dois motivos principais: ele descobre, com a ajuda dos irmãos Reed, que é um warg, isso é, que ele consegue entrar na mente de pessoas e animais (mas principalmente de animais, em especial na do seu lobo, o Verão). O outro motivo do seu desenvolvimento são os enormes problemas que serão desencadeados em Winterfell, com os quais ele terá de lidar (você compreenderá mais a frente).

E se Bran está a norte, Jon Snow, seu irmão bastardo, está no extremo norte, em Castelo Negro, resguardando a muralha. Depois dos acontecimentos estranhíssimos do último livro, onde dois irmãos negros, que haviam morrido, se levantaram e tentaram em forma de Caminhantes Brancos (uma espécie de zumbis do gelo) matar o Senhor Comandante, todos estão em alerta. Para buscar ajuda para a Patrulha da Noite, que está, digamos, falida, eles enviam um irmão negro a Porto Real, mas Tyrion, que sempre fora tão perspicaz, riu da ideia de um morto ter se levantado e tentado matar alguém, e simplesmente ignora o pedido de ajuda. Vendo a ineficiência da via política, eles partem para a prática. O comandante Mormont decide reunir cerca de duzentos homens para ir além da muralha e tentar descobrir por si o que está acontecendo. Não será spoiler dizer que esta viagem vai, também, mudar todo o rumo da história.


Ainda no primeiro livro, Arya Stark, ao se ver em risco dentro da Fortaleza Vermelha, foge paras as ruas. Lá, fica um bom tempo, o suficiente para conhecer gente perigosa e passar fome. Por fim, vê seu pai morrer na frente do Septo. Após, é pega por Yoren, um irmão da Patrulha da Noite, que pretende leva-la para Winterfell. Em A Fúria dos Reis, nós acompanhamos essa marcha em direção ao norte. Para se unir ao grupo, porém, ela tem de fingir que é um menino, e adota o nome de Arry. A convivência nesse meio é o mais explorado. Ela mantém amizade com um ferreiro, o Gendry, e dois jovens, Lommy Mãos Verdes e Torta Quente. Logo ela descobre que o grupo está sendo perseguido pela guarda de Porto Real, e pensa que é ela buscam, porém percebe que estava errada. A resistência dessa garota, mesmo diante de situações que aterrorizariam adultos, é um ponto forte da história.


Uma das grandes surpresas do livro foi Sansa Stark, que no primeiro volume era insuportável com seu sonho de ser uma bela princesa ao lado do seu querido e amado Joffrey, ter filinhos, contar histórias... Tão chata que, na resenha anterior, eu cheguei a propor que ela se chamasse Sonsa. Disse que fiquei surpreso pelo fato dela ter "acordado pra vida". Mas não era para menos: Joffrey, aquele que ela outrora amara, foi quem mandou que seu pai fosse decapitado; eles também estão em guerra contra seu irmão! Ela, a partir disso, começa a conspirar contra os Lannister... Ao menos em sua cabeça, mas já é um bom começo. Cogita até fugir da Fortaleza Vermelha, que um dia foi seu paraíso na Terra. A partir dela, nós tomaremos conhecimento do que está acontecendo em Porto Real.

Por outro lado, a viúva de Ned Stark, Catelyn Tully, foi uma das personagens mais difíceis de levar. Ela, assim como no fim do primeiro volume, está acompanhando seu filho aspirante a Rei do Norte, o Robb. Entretanto, ela foi uma personagem bem depressiva nesse livro, por preocupação excessiva com os filhos (que, né, estão aí nesse mundão de meu deus), e mais ainda por saber que seu pai, Lorde Hoster Tully, está morrendo. Entretanto, ela tem alguns pontos muito bons no livro, principalmente quando ela sai, a pedido do filho, numa missão diplomática até Ponta Tempestade, a fim de tentar chegar a um acordo com Renly, irmão mais novo do falecido do Rei Robert, que, mesmo não tendo legítimo direito ao trono, o reclama, e ao que parece, aos aspirantes à Fortaleza Vermelha, ele é o mais avançado, pois é super carismático e tem uma predisposição a fazer alianças bem-sucedidas.


Enquanto escrevia essa resenha, quis evitar ao máximo falar desse verme, mas a hora de Theon Greyjoy chegou. Para quem não se lembra, o Theon foi protegido dos Stark depois de Robert assumir o poder, pois o seu pai, Balon Greyjoy, é, digamos, muito rebelde. Adora a guerra e está disposto a começar uma a qualquer momento. Por isso, pegaram Theon e o levaram a Winterfell para, sob a proteção de Ned, servir de garantia de que Balon não se rebelaria contra o reino. Pode parecer um pouco cruel tirar um garoto de dez anos de seu lar e leva-lo para morar em uma terra distante, e talvez seja mesmo, mas Theon nunca teve do que reclamar no Norte. Ele foi criado com os filhos de Ned Stark, convivia com eles como se fossem irmãos. Ele acompanha Robb na guerra, ajuda nas batalhas, tem uma posição especial. Então, Robb decide mandar Theon em uma missão diplomática até sua terra, Pyke, para tentar fazer uma aliança com seu pai, Balon. Entretanto, chegando em Pyke, ele começa a se rebelar. Ele, de fato, é um príncipe, mas não é tratado como tal. Ninguém o conhece. O seu próprio pai, que também é um escroto, diz que ele se tornou um Stark, que não é mais um Greyjoy. Para piorar, a sua irmã, Asha (que não seu porque chamaram de Iara nada série, mas enfim...) é um boy valente, muito mais que ele. Vendo-se nessa situação, ele deseja provar sua "verdadeira identidade", e ignora a que foi mandado para Pyke, e decide partir para a conquista de um reino. E qual ele quer? Winterfell. Isso faz de Theon um imbecil, ignóbil, apedeuta, boçal e tudo de ruim que você possa imaginar.

Minhas impressões

Apesar de ser um livro grande (com cerca de 650 páginas e com meia centena de linhas lotadas de letras minusculas em cada página), eu li A Fúria dos Reis em pouco mais de uma semana (teria lido mais rápido se não fossem as provas de fim de ano). E não é para menos: a saga de Westeros é muito atrativa, e te dá em dobro toda a dedicação que você dá ao livro. Este, em especial, foi melhor que anterior, e dizem, os que já leram todos os livros, que essa regra se aplica a toda a série. Os livros de Martin melhoram em progressão aritmética.

O que mais me chamou atenção nesse, foi o aspecto do político do livro. Apesar de Martin não nos dar as descrições da guerra (tendo isso acontecido apenas uma vez no fim desse livro), nós sabemos que ela está lá. Ele não perde tempo em dizer qual golpe foi usado e nem o quanto um soldado sangrou; trata-se de um livro que vai falar sobre as estratégias, se estas foram bem sucedidas ou não, e quais foram as consequências de tais atos. Mas, até certa parte da série, nós vemos o lado apenas dos poderosos, isto é, o que nos importa mais é como o rei vai agir, o que o lorde sentiu, o que o príncipe pensou. Entretanto, em certo momento da história, nós entramos em contato com o povão da forma mais trágica possível, diga-se de passagem. Percebe-se que, enquanto nos preocupávamos com os oligarcas, o povo, que é, afinal, quem sustenta todo esse jogo de poder, está muito insatisfeito, e não encontra mais motivos para lutar, nem sequer aqueles motivos que orgulham e motivam outros a subirem num cavalo para proteger seu senhor.

Resistência, depressão, coragem, covardia, luxuria, ambição, poder, dinheiro, crise, terror, medo e, fundamentalmente, guerra é o que você vai encontrar em As Crônicas de Gelo e Fogo. É, atualmente, minha série preferida. Por isso, ainda nessas férias pretendo ler o terceiro volume, A Tormenta das Espadas, que tem cerca de 900 páginas (owww). Para A Fúria dos Reis dou 10, sem questionamentos.

Sobre a série
Um breve comentário sobre a série comparada com o livro. Como disse acima, a parte da Daenerys ficou muito mais legal na série do que no livro, por motivos que você descobrirá lendo e assistindo. Entretanto, nos outros polos da história, vi coisas extremamente desnecessárias na série. Um tempo gasto que poderia muito bem ter sido aplicados em acontecimentos muito mais interessantes. Um exemplo: no livro, a homossexualidade do Rei Renly fica apenas subentendida (num momento, Catelyn diz que ele precisa rezar, então ele diz para todos saírem, menos Sor Loras, que devia ficar para ajuda-lo a rezar), enquanto na série há cenas quase que explícitas de sexo entre ele e Sor Loras. Depois de ler, você fica sem entender o porque daquilo. E há muitas outras mudanças, corte de personagens que no livro são excelentes, desvio do foco de alguns, momentos que são rápidos no livro e que na série são estendidos... Enfim, eu adorei a primeira temporada e vi que foram muito fiéis ao texto, mas a segunda, apesar de não perder sua qualidade, deixou bastante a desejar no quesito fidelidade ao texto base.

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