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quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Maldição e Glória: a vida e o mundo do escritor Marcos Rey - Carlos Maranhão

"Marcos optou por jamais se referir a um fato extraordinário e trágico que o marcou para sempre. Guardou-o, como um segredo indesejável, da infância até a morte."


Olá! Hoje vamos falar um pouco sobre o livro "Maldição e Glória", a biografia do Marcos Rey por Carlos Maranhão. Mas antes, devo esclarecer uma pergunta que grande parte dos leitores dessa resenha devem estar se fazendo: quem é Marcos Rey?

Bom, como a grande maioria das pessoas que estudaram dos anos 1980 pra cá, eu conheci o Marcos Rey dos livros da Coleção Vaga-Lume. Você, sem dúvida, já leu ou já ouviu falar dos títulos "O mistério do cinco estrelas", "O rapto do garoto de ouro", "Um cadáver ouve rádio", "Sozinha no mundo", "Corrida infernal", "Na rota do perigo", "Quem manda já morreu", "Um rosto no computador", enfim... Esses são alguns dos títulos infanto-juvenis escritos por Rey. E se você já é um pouco mais velho, deverá se lembrar de algum de seus romances e novelas adultas, como "Café na cama", "Memórias de um Gigolô" e "Entre sem bater". Marcos ainda mentalizou e produziu o programa "O Céu é o Limite", apresentado por Jota Silvestre, na extinta TV Tupi. Outros de seus grandes sucessos vieram na escrita de novelas e roteiros. Isso é um pouco do que ele fez. Se quiser saber um pouco mais, é só assistir o vídeo abaixo, uma verdadeira raridade, no estilo "Marcos Rey por ele mesmo":


Eu adoro os livros do Marcos Rey. Mas aí pode vir outra pergunta do leitor: mas por quê? Primeiramente é importante lembrar que conheci Marcos Rey quando eu tinha lá para os 9 anos de idade, e o que mais me encantou foi a simplicidade da escrita, o quão cativante eram os fatos e o quão convincentes eram os desfechos. E houve algo mais. Faço minhas as palavras de Fernando Paixão sobre Rey: "Seu livros atingiram em cheio os leitores porque não têm nenhum tipo de moralismo, nenhuma preocupação em ser educativos, e foram escritos dentro da melhor técnica da história policial." Isso é um ponto-chave. Marcos diria que não colocara Gino, um personagem paraplégico que aparece em muitos de seus livros, por "respeito às minorias", mas porque, simplesmente, era um personagem legal. Ele não era moralista; escrevia de certa forma para que a história fica divertida, interessante e ponto. Nada mais. Mas enfim, quando tomei conhecimento dessa sua biografia numa entrevista no Programa do Jô, de 2004, onde o escritor, Carlos Maranhão, fala sobre o lançamento (para assistir, clique aqui), não hesitei em comprar na hora. Aí ele:


A edição é bonita. A parte externa da capa é com a foto de Marcos com sete anos, já a parte interna da capa é composta por uma imagem aérea da cidade de São Paulo, onde Marcos viveu e ambientou todos os seu livros. As páginas são aquelas amareladas (papel pólen), que não refletem e são super gostosas de serem viradas. As letras são grandes e há espaçamento duplo. Tudo muito bom.

Apesar de ter muita informação, essa biografia não é longa: tem 248 páginas e alguns hiatos na narrativa. Mas vamos com calma. Você deve ter notado que, logo no início desse texto, há um trecho do livro, onde o autor faz menção de um segredo terrível guardado a sete chaves por Marcos Rey até sua morte. E esse segredo nos é revelado logo no primeiro capítulo: Rey, até então apenas Edmundo Donato, era portado do mal de Hansen (conhecido popularmente como lepra). Isso era algo terrível, principalmente naquela época, onde não havia tratamento e os leprosos eram isolados da sociedade, colocados em asilos-colônias. Isso aconteceu com Marcos, o que o traumatizou para sempre (a ponto de nunca ter revelado isso a ninguém, a não ser é claro para a mulher e os parentes mais próximos). Mas isso tudo é muito bem explicado no livro. Aliás, explicado até demais. Até a página 70, Maranhão fala muito sobre como a lepra era tratada e controlada pelo Departamento de Profilaxia da Lepra, também sobre a vida pessoal do diretor do DPL e até sobre os conflitos políticos gerados pelas internações compulsórias. É claro que as explicações são interessantíssimas, mas chega uma hora que você pensa: "Tá, ok, mas e o Marcos Rey?". E então, depois disso, a biografia caminha. Deliciosamente. Há alguns fatos que são cômicos e muito bem descritos, e outros, como eu disse, são pulados. Ficam lacunas não preenchidas, talvez por falta de fontes, talvez por serem desinteressantes.

O livro vai desde o momento em que o furgão do DPL chega pela primeira vez à casa de Marcos Rey, passa pela sua carreira na TV, no rádio e, principalmente, na literatura, chega ao casamento com Palma Donato, e vai até a sua morte. Todos os seus amores, suas inspirações, seus medos mais íntimos, suas dificuldades e, também, sua paixão pela madrugada paulistana são descritas muito bem durante o livro.

Marcos Rey se relacionou com muita gente conhecida, cultivando ótimas amizades e algumas inimizades. O autor da biografia explora ambas. Em seu relacionamento amigável, ele expõe conversas de Rey com Oswald de Andrade, Lygia Fagundes Telles e até a troca de bilhetes com Carlos Drummond de Andrade. Por outro lado, sua principal desavença foi com o dramaturgo Oduvaldo Vianna Filho, o famoso Vianinha, quem Marcos acusou de plágio (o que foi comprovado e admitido por Vianinha mais tarde).

O livro é muito bom, verdade seja dita. Apesar de, como já disse, haverem alguns pulos e muitas explicações sobre a lepra, o conteúdo é rico e merecedor da nota 9! Pela excelente pesquisa de Carlos Maranhão e por saber sintetizar tão bem fatos que outrora poderiam ser esquecidos.

E você, já leu o livro? Ainda não? Então clique aqui e veja a página do livro no site da Companhia das Letras. Ao clicar, comprar online direto da editora, obter mais informações sobre a biografia etc. Entra lá.

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2 comentários:

  1. Muito bom... Merecedor da nota 9... Despertou minha curiosidade... Enfim...

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  2. MARAVILHOSO!!!!!sou apaixonada por café na cama....maldição e gloria é MARAVILHOSO.


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