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quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

A Fúria dos Reis - George R.R. Martin

"O poder reside onde os homens acreditam que reside. Nem mais, nem menos"
- Lorde Varys


Olá! Hoje, após um longo e temeroso inverno, estamos de volta com o blog! E não poderíamos retoma-lo de melhor forma, senão com um livro do maior fenômeno global da fantasia moderna: George R. R. Martin! Sim, meus queridos, estamos falando sobre as incríveis e sensacionais Crônicas de Gelo e Fogo! Hoje, então, vamos falar um pouco sobre o segundo volume, A Fúria dos Reis. Caso você não saiba, eu já fiz a resenha do primeiro volume, A Guerra dos Tronos, que você pode ler clicando aqui.

Um aviso importante: Esta é a resenha do segundo volume e, como não poderia ser diferente, daqui para baixo teremos spoilers do primeiro livro, portanto, se você não o leu e nem assistiu a primeira temporada da série, eu me pergunto: o que você está fazendo aqui? A não ser que queira que eu estrague as surpresas do primeiro volume, suma daqui. Até logo.

Eu pretendia ler esse livro apenas nas férias, mas comecei bem antes (tanto que esta resenha está saindo bem no início das férias). Tudo isso porque George Martin não é um autor a ser postergado, e como eu mostrei na resenha anterior, eu já comprei toda a coleção, então, com ele na minha estante, a vontade bateu e eu logo comecei. Olha ele aí:



A história de A Fúria dos Reis não tem nenhum pulo em relação ao Guerra dos Tronos, ou seja, ele se inicia pontualmente onde a primeiro volume acaba. E vocês bem sabem o quão trágico é o fim daquele livro. Você, quando termina, sente um vazio enorme... E com esse segundo volume não é diferente. Terminei de lê-lo numa noite e fiquei um tempo em silêncio, pensando... Muito desolado. Sério. Mas, o porquê vocês terão de descobrir lendo. Por enquanto, vamos nos contentar em falar sobre o que está acontecendo no começo do livro, quais serão os estopins para os grandes acontecimentos da história.

Desta vez, o livro ganha dois novos personagens de ponto de vista, ou seja, personagens cujo ponto de vista será a base para a narração em terceira pessoa de Martin. São esses Davos Seaworth e Theon Greyjoy.

Os personagens e a história

Em Westeros, no começo de A Fúria dos Reis, está passando um grande cometa vermelho. Até mais da primeira centena de páginas, haverão personagens dando suas opiniões sobre o que ele representa. Apesar de parecer apenas mais um fenômeno natural, este cometa levará, em alguns momentos, a história para outros rumos.

O prólogo do livro já nos apresenta um novo cenário, composto por personagens novos e por alguns que outrora foram apenas comentados. O personagem de ponto do vista desse capítulo é Meistre Cressen, que é Meistre da família Baratheon, e está em Pedra do Dragão a serviço de Stannis. Este, após a morte do irmão e rei Robert, está reclamando ao trono, e se considera o legítimo herdeiro do trono de ferro (pois acredita que o atual rei Joffrey não era filho de Robert, mas sim um fruto de incesto entre os irmãos gêmeos Cersei e Jamie Lannister), entretanto, não possui carisma algum e é inflexível na hora das negociações, o que faz com que fique isolado. Porém, para não ficar de fora, ele decide se aliar uma religião oriental, e conhece Melisandre, a sacerdotisa vermelha. O Meistre Cressen, porém, percebe que os meios usados por esta sacerdotisa são espúrios (e de fato são) e ela tem norteado a mente de Stannis a lados indesejados. Por isso, decide mata-la, porém, ela foi mais esperta e, percebendo essa intenção, fez com que o Meistre Cressen morresse logo na primeira dezena de páginas do livro.

Agora, quem vai estar presente nos acontecimentos de Pedra do Dragão será Davos Seaworth, um ex-contrabandista que, de alguma forma, ajudou a tropa de Stannis a sair de uma enroscada e, por isso, foi nomeado cavaleiro e apoiador da causa do irmão mais velho de Robert. O seu propósito é, pelo menos nesse livro, cercar a história de Stannis, agora um devoto ao Senhor da Luz, e nos mostrar o que ele planeja e como pretende agir em sua busca pelo trono. Apesar de tudo, há somente dois ou três capítulos de Davos no livro.

Outra personagem que aparece pouco nesse livro é Daenerys Targaryen: não contei mais que cinco ou seis capítulos dela. No fim do primeiro volume, três vidas são perdidas por ela: a de Khal Drogo, o seu marido, a de Mirri Maz Duur, uma maegi, e do seu filho, que morreu ainda em sua barriga. Em compensação, destas três vidas nascem outras três, a dos dragões de Daenerys. Agora, acompanhada deles, ela vê o cometa e, o seguindo, chega à cidade de Qarth que, segundo o bruxo Pyat Pree, "é a maior cidade que já existiu ou existirá. É o centro do mundo, o portão entre o Norte e o Sul, a ponte entre o Leste e o Oeste, mais antiga do que a memória do homem, e tão magnífica que Saathos, o Sábio, arrancou os olhos depois de vê-la pela primeira vez, porque sabia que tudo o que veria daí pra frente pareceria miserável e feio". Veja bem: não é um lugar muito humilde. Lá ela procura apoio financeiro para poder bancar a sua volta a Westeros para retomar o Trono de Ferro, que considera ser seu por direito, já que antes de pertencer a Robert (a quem chama de o Usurpador), pertencia a seu pai, Aerys. Em Qarth, ela terá boas surpresas, mas, para ser bem sincero, ao menos na parte dela, a série da HBO foi melhor, mais interessante.

E se até agora falamos apenas de personagens que aprecem pouco durante a narrativa, Tyrion Lannister vem agora para compensar. Este anão, da família mais rica e influente do reino, filho do poderoso Tywin e irmão da rainha Cersei, é um dos personagens mais legais de toda a série. Ele é incrível, mais ainda agora que ocupa o cargo de Mão do Rei (uma espécie de primeiro-ministro). O que se percebe é que ele, apesar de ser um Lannister, é super centrado em seus planos que, muitas vezes, vão contra os interesses do rei Joffrey e da rainha regente Cersei. Isso desperta muito a ira deles, o que o deixa muito mais legal. Aliás, eu diria que ele, agora como parte do governo, está lá para maneirar os atos do rei adolescente (que como tal quer ser um absolutista) e cortar os excessos. Além de tudo, é incrivelmente inteligente, estrategista e persuasivo (tanto que ele, no livro anterior, fez um exercito com selvagens que outrora queriam sua pele). Não é a toa que já tem um livro chamado "A filosofia de Tyrion Lannister". E sob a ameaça do ataque de Stannis à Porto Real, ele vai atrás de alquimistas para produzir uma certa substância muito perigosa, o fogovivo, que pretende usar caso o irmão mais velho de Robert decida atacar a terra do rei. Nós também entramos em sua vida amorosa. Desde o primeiro volume, sabemos que ele está namorando Shae, uma prostituta. Com Tyrion, vemos tanto os conflitos bélicos quanto os amorosos, vemos injustiças e estratégias, o controle e a sua ameaça. Este é, sem dúvidas, o personagem de maior destaque desse livro.

Apesar do Tyrion ser incrível, o meu personagem preferido da toda a série é Brandon Stark, por vários motivos. Assim como na maior parte do último livro, neste ele é nossa única fonte de informações sobre o norte, onde fica Winterfell. Entretanto, em Guerra dos Tronos, ele é um personagem muito passivo, tanto por ter ficado aleijado, tanto pela falta ações dele. Neste livro, entretanto, ele já é ativamente o príncipe de Winterfell e, apesar de não estar ativo na guerra contra os Lannister com o irmão, o personagem se desenvolve de uma forma muito interessante, por dois motivos principais: ele descobre, com a ajuda dos irmãos Reed, que é um warg, isso é, que ele consegue entrar na mente de pessoas e animais (mas principalmente de animais, em especial na do seu lobo, o Verão). O outro motivo do seu desenvolvimento são os enormes problemas que serão desencadeados em Winterfell, com os quais ele terá de lidar (você compreenderá mais a frente).

E se Bran está a norte, Jon Snow, seu irmão bastardo, está no extremo norte, em Castelo Negro, resguardando a muralha. Depois dos acontecimentos estranhíssimos do último livro, onde dois irmãos negros, que haviam morrido, se levantaram e tentaram em forma de Caminhantes Brancos (uma espécie de zumbis do gelo) matar o Senhor Comandante, todos estão em alerta. Para buscar ajuda para a Patrulha da Noite, que está, digamos, falida, eles enviam um irmão negro a Porto Real, mas Tyrion, que sempre fora tão perspicaz, riu da ideia de um morto ter se levantado e tentado matar alguém, e simplesmente ignora o pedido de ajuda. Vendo a ineficiência da via política, eles partem para a prática. O comandante Mormont decide reunir cerca de duzentos homens para ir além da muralha e tentar descobrir por si o que está acontecendo. Não será spoiler dizer que esta viagem vai, também, mudar todo o rumo da história.


Ainda no primeiro livro, Arya Stark, ao se ver em risco dentro da Fortaleza Vermelha, foge paras as ruas. Lá, fica um bom tempo, o suficiente para conhecer gente perigosa e passar fome. Por fim, vê seu pai morrer na frente do Septo. Após, é pega por Yoren, um irmão da Patrulha da Noite, que pretende leva-la para Winterfell. Em A Fúria dos Reis, nós acompanhamos essa marcha em direção ao norte. Para se unir ao grupo, porém, ela tem de fingir que é um menino, e adota o nome de Arry. A convivência nesse meio é o mais explorado. Ela mantém amizade com um ferreiro, o Gendry, e dois jovens, Lommy Mãos Verdes e Torta Quente. Logo ela descobre que o grupo está sendo perseguido pela guarda de Porto Real, e pensa que é ela buscam, porém percebe que estava errada. A resistência dessa garota, mesmo diante de situações que aterrorizariam adultos, é um ponto forte da história.


Uma das grandes surpresas do livro foi Sansa Stark, que no primeiro volume era insuportável com seu sonho de ser uma bela princesa ao lado do seu querido e amado Joffrey, ter filinhos, contar histórias... Tão chata que, na resenha anterior, eu cheguei a propor que ela se chamasse Sonsa. Disse que fiquei surpreso pelo fato dela ter "acordado pra vida". Mas não era para menos: Joffrey, aquele que ela outrora amara, foi quem mandou que seu pai fosse decapitado; eles também estão em guerra contra seu irmão! Ela, a partir disso, começa a conspirar contra os Lannister... Ao menos em sua cabeça, mas já é um bom começo. Cogita até fugir da Fortaleza Vermelha, que um dia foi seu paraíso na Terra. A partir dela, nós tomaremos conhecimento do que está acontecendo em Porto Real.

Por outro lado, a viúva de Ned Stark, Catelyn Tully, foi uma das personagens mais difíceis de levar. Ela, assim como no fim do primeiro volume, está acompanhando seu filho aspirante a Rei do Norte, o Robb. Entretanto, ela foi uma personagem bem depressiva nesse livro, por preocupação excessiva com os filhos (que, né, estão aí nesse mundão de meu deus), e mais ainda por saber que seu pai, Lorde Hoster Tully, está morrendo. Entretanto, ela tem alguns pontos muito bons no livro, principalmente quando ela sai, a pedido do filho, numa missão diplomática até Ponta Tempestade, a fim de tentar chegar a um acordo com Renly, irmão mais novo do falecido do Rei Robert, que, mesmo não tendo legítimo direito ao trono, o reclama, e ao que parece, aos aspirantes à Fortaleza Vermelha, ele é o mais avançado, pois é super carismático e tem uma predisposição a fazer alianças bem-sucedidas.


Enquanto escrevia essa resenha, quis evitar ao máximo falar desse verme, mas a hora de Theon Greyjoy chegou. Para quem não se lembra, o Theon foi protegido dos Stark depois de Robert assumir o poder, pois o seu pai, Balon Greyjoy, é, digamos, muito rebelde. Adora a guerra e está disposto a começar uma a qualquer momento. Por isso, pegaram Theon e o levaram a Winterfell para, sob a proteção de Ned, servir de garantia de que Balon não se rebelaria contra o reino. Pode parecer um pouco cruel tirar um garoto de dez anos de seu lar e leva-lo para morar em uma terra distante, e talvez seja mesmo, mas Theon nunca teve do que reclamar no Norte. Ele foi criado com os filhos de Ned Stark, convivia com eles como se fossem irmãos. Ele acompanha Robb na guerra, ajuda nas batalhas, tem uma posição especial. Então, Robb decide mandar Theon em uma missão diplomática até sua terra, Pyke, para tentar fazer uma aliança com seu pai, Balon. Entretanto, chegando em Pyke, ele começa a se rebelar. Ele, de fato, é um príncipe, mas não é tratado como tal. Ninguém o conhece. O seu próprio pai, que também é um escroto, diz que ele se tornou um Stark, que não é mais um Greyjoy. Para piorar, a sua irmã, Asha (que não seu porque chamaram de Iara nada série, mas enfim...) é um boy valente, muito mais que ele. Vendo-se nessa situação, ele deseja provar sua "verdadeira identidade", e ignora a que foi mandado para Pyke, e decide partir para a conquista de um reino. E qual ele quer? Winterfell. Isso faz de Theon um imbecil, ignóbil, apedeuta, boçal e tudo de ruim que você possa imaginar.

Minhas impressões

Apesar de ser um livro grande (com cerca de 650 páginas e com meia centena de linhas lotadas de letras minusculas em cada página), eu li A Fúria dos Reis em pouco mais de uma semana (teria lido mais rápido se não fossem as provas de fim de ano). E não é para menos: a saga de Westeros é muito atrativa, e te dá em dobro toda a dedicação que você dá ao livro. Este, em especial, foi melhor que anterior, e dizem, os que já leram todos os livros, que essa regra se aplica a toda a série. Os livros de Martin melhoram em progressão aritmética.

O que mais me chamou atenção nesse, foi o aspecto do político do livro. Apesar de Martin não nos dar as descrições da guerra (tendo isso acontecido apenas uma vez no fim desse livro), nós sabemos que ela está lá. Ele não perde tempo em dizer qual golpe foi usado e nem o quanto um soldado sangrou; trata-se de um livro que vai falar sobre as estratégias, se estas foram bem sucedidas ou não, e quais foram as consequências de tais atos. Mas, até certa parte da série, nós vemos o lado apenas dos poderosos, isto é, o que nos importa mais é como o rei vai agir, o que o lorde sentiu, o que o príncipe pensou. Entretanto, em certo momento da história, nós entramos em contato com o povão da forma mais trágica possível, diga-se de passagem. Percebe-se que, enquanto nos preocupávamos com os oligarcas, o povo, que é, afinal, quem sustenta todo esse jogo de poder, está muito insatisfeito, e não encontra mais motivos para lutar, nem sequer aqueles motivos que orgulham e motivam outros a subirem num cavalo para proteger seu senhor.

Resistência, depressão, coragem, covardia, luxuria, ambição, poder, dinheiro, crise, terror, medo e, fundamentalmente, guerra é o que você vai encontrar em As Crônicas de Gelo e Fogo. É, atualmente, minha série preferida. Por isso, ainda nessas férias pretendo ler o terceiro volume, A Tormenta das Espadas, que tem cerca de 900 páginas (owww). Para A Fúria dos Reis dou 10, sem questionamentos.

Sobre a série
Um breve comentário sobre a série comparada com o livro. Como disse acima, a parte da Daenerys ficou muito mais legal na série do que no livro, por motivos que você descobrirá lendo e assistindo. Entretanto, nos outros polos da história, vi coisas extremamente desnecessárias na série. Um tempo gasto que poderia muito bem ter sido aplicados em acontecimentos muito mais interessantes. Um exemplo: no livro, a homossexualidade do Rei Renly fica apenas subentendida (num momento, Catelyn diz que ele precisa rezar, então ele diz para todos saírem, menos Sor Loras, que devia ficar para ajuda-lo a rezar), enquanto na série há cenas quase que explícitas de sexo entre ele e Sor Loras. Depois de ler, você fica sem entender o porque daquilo. E há muitas outras mudanças, corte de personagens que no livro são excelentes, desvio do foco de alguns, momentos que são rápidos no livro e que na série são estendidos... Enfim, eu adorei a primeira temporada e vi que foram muito fiéis ao texto, mas a segunda, apesar de não perder sua qualidade, deixou bastante a desejar no quesito fidelidade ao texto base.

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Um comentário:

  1. Pela cabeça de Ned Stark... Resenha perfeita... Espero ter a opurtunidade de ler a proxima de A Tormenta das Espadas... Adorei a descriçao de Theon Greyjoy...

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